sábado, 19 de maio de 2007

Meus novos livros velhos

Criança fica encantada quando vê brinquedo novo, bonito, colorido; mas é criança bem formada, bem dormida. Está salva e bem falada. Eu quero falar é da criança ansiosa, mal comida, pouca cama e muito sono, das que pirulito espiralado enfincado num lenhozinho roliço é a maior lindeza do mundo. Não tem medo de escuro; sempre viu.

Pois é. Dia desses fiquei criança mal comida quando ganhei de um amigão uma ruma de livros idosos, mas sem senilidade. Obras. Vinte. Não via a hora de enfiar os olhos pelas páginas e arrancar inteiras as histórias, lições, as teses, pra guardar tudo lá no fundo de mim, aonde ninguém vai nem rouba. Saber, secura que vive me cercando a goela. Palavra é alma, livro é corpo!

De entremeio notei que já residiram com gente de poder; raro rabisco, nenhuma anotação ou encardume, só trinco numa, pelo tempo de 1976. Tristes estantes. Agora de casa nova, pitanguizam. Todo dia falo um pouco com um; não quero feito bezerro enjeitado que a boiada dá cabeçada. Faço-me papagaio de japonês; mais escuto.

Falando da civilização brasileira estão agora lá em casa assentados todo dia à escrivaninha, Antônio Houaiss, Rachel de Queiroz, Sérgio Porto, Darci Ribeiro, Antonio Sérgio Arouca, Barbosa Lima Sobrinho, Ignácio de Loyola Brandão e outro montão de gente do naipe e que eu não conhecia: Moacyr Félix, Roberto Amaral e Aracy Amaral, Ralph Della Cava... Conversa de horas, nem vejo. Só o claro sombreado na vidraça pelas folhas da sibipiruna é que avisa.

Também escuto Francisco Molnár, o húngaro, contando sobre “Os meninos da Rua Paulo” – de dezembro de 1952, quando tinha eu cinco meses só – pelas mãos do tradutor Paulo Rónai; Antonio de Sena Madureira, sujeito brabo, cuida de responder sobre a “Guerra do Paraguai” para uns tais de Jorge Thompson e D. Lwis e A. Estrada, argentinos estes dois últimos.

O didático João Carlos Vicente Ferreira se afunda n’O Paraná e Seus Municípios. E eu que já tinha os volumes da História do Paraná, 2ª edição, de 1969, vira e mexe cotejo as conversas das duas.

Ah, o Nostradamus e o Milênio também veio junto; capa dura, cai’s novo – diria Seu João, bom vizinho que já partiu. Quero crer no Nostra, mas me arisco; saber esquisito, acho que tergiversa.

Pronto, apresentei-lhes meus novos amigos. Agora se vocês me derem alvará vou voltar a ter com eles, lamber o espiralado antes da formiga. A vida me escorre entre os dedos, evadida. Me enleio de pé no freio pra beber água sabida deles. Depois conto aqui o que me marcar do que disserem.

Até a volta, se dizia nesse encovado do Paraná, quando corcel era só cavalo mesmo! ... guimaraneei...